sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dissonante


''O sono dissona a soma
No sono que disse ser.
Só não soa como sonante,
Consoante sonhava em ser.
Se sonhasse sonar no sono
De quem sona um sonho assim,
É que tem um sonhar pesado
Que não sona nem de ruim.''

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Bitte Bitte, geb' mir Gift


''Tem uma luz na tua mão
Dourada como os grãos do sol
Ela envolve teus dedos e me cega
Toda vez que passo.
E disfarço com o passo cambaleante
d
e s
com
Passado coração que se agita
E pula no peito, só a alma sabe a dor...
Toda minha rua fica aflita
A calçada inteira de nervos palpita,
De tão brilhante, me suga toda cor.
Mas quando passo impassível,
Impossível
Sem disfarce,
Leio nos teus olhos desmembrados de amor
e não há falta.
Tambén não há disfarce que compreenda as mãos nos meus olhos
Pedindo proteção por tal cegueira esverdeada,
Que anseio a espera da morte
Batendo sempre na porta errada''

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

22:22 (As possíveis 3 horas)


''As horas passam, e não são as mesmas de ontem.
Só o ponteiro que desponta nas 22 horas, que é sempre o mesmo.
Sempre a mesma hora;
Sempre o mesmo pulsar.
E se acaso o relógio ultrapassasse às 24 horas?
Desordenado, marcando 26...
O tempo não é mais feito de água, ou de areia.
O tempo agora é de ponteiros
E a ponte do meu relógio, não tem beirada.
O 26 inexistente, não é assim tão impossível...
Apesar da distância das horas.''

Sem título, sem ponte.


''A gente se olha atravessado quando senta em esquinas diferentes, o olhar passa despercebido pela rua que não é a mesma rua da gente.
E quando passa nada fica só o silêncio que ansioso suplica a vontade do fixar, ergo os olhos ao teu caminhar que levemente passa aveludado pelo chão, e quando apressado, fica com ansiosa precisão.
Quando na rua o vento beija tua fronte, deliciosamente suspira nos cachos que no abraço envolvem teu pescoço... Cachos que se unem e separam e se colorem, e se disfarçam na escuridão do anoitecer.
Nos nossos desencontros, suspiro meu olhar de longe na tua negra jaqueta, d-e-l-i-b-e-r-a-d-a-m-e-n-t-e fechada contra o peito, que tristemente não posso desabotoar. De o teu breve avermelhar (meu), não pode por fim, colorir-me de mim mesma, e nas pálpebras lacrimejadas de diamantes percorrendo meu corpo em melancólica sinfonia, formam um triste colar do diamante mais salgado que já provei.
Meu querer fica limitado em refinada dualidade, que se perde entre nossas esquinas tão vazias, e separados esperamos o encontro da carona que jamais vai nos encontrar...''

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Suicídio da Gota.


Essa noite,
A árvore estendeu seu galho, vestido pela brisa orvalhada, que caía molhada no chão.
Dançava a gota na ponta, esperando o momento
De jogar-se contra o chão.
Ansiosa, num pulo ao encontro trágico jogou-se levianamente,
E ao cair refletia no seu corpo como um espelho
A imagem daquilo que havia em sua volta, tornando-se tudo aquilo que a rodeava.
Foi o reflexo da flor,
O reflexo do bosque,
O reflexo de outras gotas,
Até se tornar o reflexo da sua própria dor.
Caiu na roseira, deslizou na rosa,
Parou durante um tempo na curva dos Seus espinhos...
delirou, Delirou, DELIROU...!
...caiu na terra e fundiu-se ao chão.
Ficou estática observando de baixo a dança das folhas,
As folhas da macieira já negras por maldade do tempo...
Permaneceu ali, umedecendo a noite da terra e o corpo da rosa,
Satisfazendo a beleza da flor e a sede da terra.
Às 6 horas, quando o sol se ergueu com uma virilidade intensa e magnífica
Determinada a aquecer e confortar da sua maneira vermelha,
Secando o corpo das árvores e suas folhas, as plantas e as pétalas da rosa,
Secando a terra e toda água...
...Era o fim da gota.



Era o fim.

À noite a árvore estendeu seu galho novamente.
E chorou uma nova gota que pacientemente esperou a hora de jogar-se.
Às três horas, despediu-se do braço amigo da árvore e seguiu destino.
Suavemente caiu sobre a terra mergulhando em pedrinhas e insetos.
Envolveu-se à uma semente.
Penetrou com toda vida, todo amor.
Uniu-se intensamente ao seu encontro, ficando segura no ventre da semente.
Aos poucos foi permanecendo e fortificando-se com a chegada do sol.
Até tornar-se uma bela rosa negra, brilhante e delicada
Esperando o mergulho de alguma gota que se atrevesse...
...a suicidar-se
Nas suas pétalas.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O que te dói?

O quê corta mais que amor de infância quando acaba?
Mais que descobrir que depois da morte não há mais nada?
Dói muito mais que perder o melhor amigo pra namorada;
Ter nas mãos o céu e não ter um chão pra ter segurança;
Dói mais que crescer e esquecer de ser criança...
É a raiva
É a raiva
É a raiva.
...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sem.


"Hoje, quando acordei,
Vi as linhas que cortam o meu rosto
sadicamente sorrindo para mim no espelho
Que sadicamente sorriram para mim no espelho.
Arrastei minhas mãos até a cama
Deitei meu rosto como deita o chão no meu joelho.
Em meu derradeiro fim
Eu fui devagar até a entrada do portão de madeira
Subindo, levemente, cada degrau daquela escada
Como fosse a primeira
Na última vez, então, parei,
um pé acima e outro, que apoiava no calcahar,
Sujeitando o esquerdo abaixo da sola do direito
Fingindo um breve caminhar.
O som do violino que cantava
Nas mãos de um homem que qualquer canção tocava
Vibravam ondas e o calor da nota
Que toda nota em mim tocava
No meio da multidão linhas turvas,
Linhas douradas em um castanho escuro
Tão doce e selvagem ouro que me doeu
Era amargo como um dia eu fui.
Que de toda esperança me enriqueceu.
Passou entre tantos e veja só,
Tantos, todos, eram nada.
Que queimou como brasa, todo...
Meu corpo que congelava.
Um homem se pôs em frente à porta,
Era escuro como o carvão,
Passava os dedos no rosto secando a lágrima
Fingindo ser um lenço a sua grosseira mão
A tiete incendiava com um fogo vil a platéia
E ninguém queria seus favores
Eu fechava os olhos
E fechava a boca para não deferir meus amores.
E assim ali inerte
Permaneci inebriada em mim mesma
Nos olhos de quem passou
Nos passos de quem andou
Nas notas que ele tocou.
E de repente...
Shhhhh...
O momento final.
A platéia de aplausos
E nada mais.
Minhas sensações se perderam
E desci as escadas de madeira
Como se fossem as últimas:
De maneira corrida
como pintura mal feita e úmida...''

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O mundo é feito de grandes filhos da puta que praticam filha-da-putagem o tempo todo com outros filhos que não são de putas e não têm nada a ver.
A gente vive num morro, onde se pede socorro, e enquanto delira só consegue descer.
E depois lá embaixo, umedecido no sangue, se diz ADEUS.

domingo, 11 de julho de 2010

Preto&Branco


"Ontem parecíamos duas linhas
Que se enrolavam de maneira aleatória
Cada vez mais confusa;
Tuas mãos consolando as minhas
Envolvidas por uma sintonia simplória
E friamente difusa.
Sustentados num abraço opaco
Esperando o desfecho do alívio
A morte da discussão.
O que era belo até então tornou-se fraco
Vagando inebriado pela solidão.
Não escuto então na brisa do inverno
A música que outras madrugadas dançavam em mim,
Apenas ecos do ontem
Do ontem que foi o fim."

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Retrato de Dorian Gray


"Por trás, as portas longilíneas brancas e molhadas pelo orvalho da manhã
E no centro do seu salão, autorias e utopias estampadas
Rostos desconhecidos e umedecidos pelo saber
Enrugados do óleo mais puro e envelhecido da experiência.
Lábios avermelhados da mais doce maçã
E as sedosas e masculinas mãos mais lindas, jamais fora inventadas
Trazia nos olhos um fogo açucarado de bem querer
E dentro dos olhos mel-acinzentados, portando toda delícia da essência.
Permanecia como uma criatura esplendorosa,
Na explicação de obra-em-obra
Escorrendo por entre os lábios molhados
A coloração da bela aurora
Caminhava por entre os presentes
Destacando-se na explicação
Pincelando porquês e olhares
Que sozinhos nunca se distinguirão.
Era o Retrato de Dorian Gray
Pulsando no olhar severo e inocente do orientador
Que caminhava sobre as explicações
Das artes que não têm
Nem nunca tiveram finalidades, a não ser o sustento
De seus artistas e suas vaidades.
Cada caminhada suplicava em mim a dor
Da infundada e tão temida essência
De querer ser sempre amor
E ser apenas a mais linda indecência.
Sonhei por entre paredes escalar flamejante
E derramar por entre os dedos, lábios, silhueta
O mais líquido e pálido suco
Que escorre do teu corpo em sintonia perfeita
Mas as obras começam e tem fim
E de todo esse fim, essa sede
De querer pintar tanto desejo
E apenas poder admirar preso à tua parede."